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SUPER HOMEM, JUÍZES E JORNALISTAS

Eduardo Perez
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SUPER HOMEM, JUÍZES E JORNALISTAS

Não há antagonismo entre profissões, mas entre o bem e o mal. Nessa luta, de que vale um feiticeiro que não encanta armas ou armaduras?

Em julho de 2019 publiquei um curto artigo sobre uma manifestação do exotérico Paulo Coelho. Continua atual, como segue:


Vejam mais uma pérola divulgada por Paulo Coelho: Super-Homem não é um juiz, mas um jornalista.


Misticamente equivocado o pretenso bruxo. O Super-Homem oculta a sua verdadeira identidade por trás de um jornalista medíocre, desastrado e tímido que sequer é lembrado, salvo por ser uma casca caricata.


O herói não é um jornalista, ele finge ser um jornalista para que não saibam que ele é o Super-Homem, o indivíduo que combate o crime com risco à própria vida e de seu familiares.


E esconde quem é justamente para proteger seus entes queridos.


O Homem de Aço também não é um juiz. Ele combate o crime e leva os criminosos para serem julgados por juízes, porque sabe que ninguém está acima da lei, inclusive ele mesmo.


Quando montou um grupo, não deu o nome de "Liga dos Jornalistas", mas de "Liga da Justiça", porque Justiça é uma virtude que ele e os demais heróis sempre perseguiram, independentemente da profissão de suas identidades secretas.


Diferentemente dos heróis, contudo, juízes trabalham sem identidade secreta. Todo mundo sabe onde atuam e moram, quem são seus filhos, seus cônjuges, seus pais, seus entes queridos.


Por isso os juízes José Antônio Machado Dias, Alexandre Martins e Patrícia Acioli foram mortos. Lutavam contra o crime de peito aberto e cara limpa, sem se esconder atrás de hackers, ideologias ou do politicamente correto.


Também por isso, por investigar o crime, o jornalista Tim Lopes foi morto. de cara limpa e peito aberto.


Tudo isso num país no qual a criminalidade, inclusive a institucional, de lá pra cá só piorou, e muito.


A questão, senhor Paulo Coelho, não é essa dicotomia entre juízes e jornalistas, mas sim quem luta pela Justiça e quem está contra ela.


Essa é toda a diferença que esse clima de "fla-flu", para ficar mais evidente às suas raízes cariocas, não quer que vejamos.


Não são jornalistas contra juízes, aqui é a honestidade contra a desonestidade, e tanto em um campo quanto em outro cabe todo o tipo de gente. Não será o hábito que fará o monge, fugindo à pirotecnia esotérica de que a aparência vale mais do que o conteúdo para livrar os tolos dos cobres que carrega no bolso.


Há bons e maus juízes, bons e maus jornalistas. E aos bons interessa que os maus sejam punidos, porque a impunidade é um câncer que mata, mata demais. 


Talvez nos castelos europeus e no plano etéreo não se tenha noção de que 64 mil mortos gritam por justiça anualmente na Terra de Santa Cruz. E não vamos falar das vítimas estupradas, das crianças violadas, dos que morrem à míngua por desvio de dinheiro público e outras coisas mais que são próprias de nós que vivemos no duro plano físico, no Reino, mas bem longe da Coroa.


Como jogador de RPG, eu me recordo de uma anedota (logo, não sei se é verdade) de algo que teria ocorrido no século passado, em uma bienal do livro.


Havia um estande de jogos em formato de castelo "guardado" por um indivíduo vestido de cavaleiro, e que se localizava próximo a onde auto-proclamado mago tupiniquim autografava suas obras.


Vendo a movimentação, o cavaleiro se aproximou de Coelho e perguntou:


- Você é o mago local?
- Sim, disse Coelho.
- Encantas espada? - perguntou o cavaleiro.
- Não, respondeu.
- Encantas escudo?
- Não, disse Coelho.
- Encantas armadura?
- Não.
- Então você serve pra que? - disse o cavaleiro, dando-lhe as costas.


Até hoje eu não sei a resposta.