O TORPOR, O MEDO E A VITÓRIA DO MAL
A voracidade dos criminosos não possui limite: já não se contentam em ter tudo, querem humilhar e subjugar cada pedaço do que nos faz humanos, querem reduzir todos ao mais degradante nível de submissão aos seus desejos.
Meu Deus, cada dia prenuncia uma derrota maior!
A cada dia a máquina tritura um pouco mais de nós, mostrando que nesse “Estado” de coisas o homem é feito para a lei, e não a lei para o homem.
Todo instante é um apocalipse diferente, pior, mais sórdido, mais torpe.
Mas tudo bem, porque meu time vai jogar.
Mas tudo bem, porque alguma celebridade de encomenda vai falar uma bobagem que repercutirá nas redes sociais, na televisão e no rádio.
Mas tudo bem, porque alguém vai estapear a cara de outra pessoa e vamos discutir quem tem razão.
E todo mal será esquecido, e todo mal será perdoado.
E nós? Quantos tapas na cara ainda vamos levar até acordarmos desse torpor servil? Quantas bicudas vamos suportar, como se fosse natural essa sujeição abjeta?
A voracidade dos criminosos não possui limite: já não se contentam em ter tudo, querem humilhar e subjugar cada pedaço do que nos faz humanos, querem reduzir todos ao mais degradante nível de submissão aos seus desejos.
Cada manhã anuncia uma surpresa, porque não se contentam jamais em seus prazeres infames, como pérfidas personagens que nem mesmo o patológico Marquês de Sade criaria em seus sonhos d’Os120 Dias de Sodoma.
E riem de nós com seus lábios frouxos, e riem de nós com seus proeminentes buchos, e riem de nós do alto de sua auto-concedida impunidade.
O mais incrível é que os grilhões que nos prendem não são de ferro, nem de chumbo. Não são nem mesmo de lata. São grilhões de medo & desejo: o medo de perder o que se tem, o desejo de possuir um pouco mais.
Ignoramos que o pouco que nos é dado em verdade é devolvido por eles do muito que nos é tomado.
Aceitamos as dezenas de milhares de mortos, agradecendo que não somos nós.
Aceitamos os incontáveis estupros, agradecendo que não somos nós.
Aceitamos os milhares de roubos e latrocínios, agradecendo que não somos nós.
E aceitamos os 200 bilhões por ano desviados pela corrupção, porque… porque sim.
Ai, Rhuan, torturado e esfaqueado! Ai, João Hélio, arrastado pelas ruas por seus algozes! Ai, Liana, estuprada, torturada e morta!
Depois de todo esse tempo, o que temos a dizer para vocês e para tantos, tantos, tantos outros?
O mal, esse mal torpe e indecoroso, que se ri e refestela-se sobre o cadáver insepulto da esperança de Justiça só se cria na covardia. Só o medo o alimenta a ponto desse parasita tornar-se maior que o parasitado.
Ninguém faz nada, ninguém quer fazer nada. Acima de tudo, deveria valer uma lei: só seria moralmente aceito sair de casa todos os dias se fosse para mudar o mundo para melhor.
Contudo, o sol nascerá como sempre, e ninguém no Brasil terá vergonha de colocar sua cara para fora e andar em plena luz do dia, embora deva.
Três contos sobre ofertar presentes podem nos dizer muito sobre o Natal.
Pensar o Natal como uma auditoria da nossa conduta no último ano e um ajuste de caminho para o ano vindouro o torna uma data sempre presente, e não um feriado no qual se come muito e se trocam presentes.