BONS MODOS E COTIDIANO FORENSE
Educação não é fraqueza. Fraqueza é tratar os outros a coices e esperar ser respeitado. Você pode mandar sem chicote, pode discordar sem agressão, pode até dizer que o outro está errado sem feri-lo.
Bom dia, por favor, obrigado, com licença. Essas expressões tornaram-se raras no cotidiano e, curiosamente, mais raras naquele que deveria ser o ápice da boa educação: o fórum.
Todo mundo imagina juízes, servidores, promotores, advogados, todos arrumados conversando em alto nível sobre questões jurídicas, igual vemos na TV.
A verdade é bem outra, e foi a pandemia que destacou isso.
Com o teletrabalho as comunicações passaram a ser feitas por e-mail, e advogados e partes puderam enviar solicitações para juízes e servidores sobre os processos.
Não sei quanto aos demais, mas, lendo as que recebi, notei que quase todas vêm ausentes de uma saudação, de um por favor e de um obrigado. Pior, não são pedidos, são ordens que demandam rapidez.
Sempre que me comunico, inclusive pela internet, prezo pelo cuidado com o outro. A educação abre portas, impressiona, faz bem, contamina e, melhor, volta em dobro para você.
Duas histórias rápidas. Lembro quando substituí em um gabinete e os servidores acharam graça da forma que me comunico. Uma semana depois e todo mundo já estava usando o “por-favor-obrigado” e o “bom-dia-boa-tarde”.
Outra. No início da carreira, atendi durante o recesso forense um advogado idoso, muito distinto e educado. Decidi rapidamente o seu caso e fez questão de me cumprimentar. Quando começou a me agradecer pela decisão, eu o cortei para dizer que era o meu trabalho, no que ele emendou, polido: “então pela rapidez, excelência”.
Você prefere ser tratado aos chutes ou com sorrisos?
Digo que a falta de experiência e de conhecimento técnico é mitigada por uma conduta cortês: a pessoa é vista com outros olhos.
Educação não é fraqueza. Fraqueza é tratar os outros a coices e esperar ser respeitado. Você pode mandar sem chicote, pode discordar sem agressão, pode até dizer que o outro está errado sem feri-lo.
O cotidiano forense é lidar com problemas e violência. A polidez serve para amenizar a gravidade desses temas.
Se você escolheu a profissão que envolve lidar com as pessoas, ame-as. Verá que é melhor para o seu caráter e para o mundo.
Três contos sobre ofertar presentes podem nos dizer muito sobre o Natal.
Pensar o Natal como uma auditoria da nossa conduta no último ano e um ajuste de caminho para o ano vindouro o torna uma data sempre presente, e não um feriado no qual se come muito e se trocam presentes.